terça-feira, 9 de outubro de 2012

O polo naval e a utilização da hidrovia.


A ativação de um polo naval junto à cidade de Rio Grande trouxe para a pauta dos noticiários a utilização da hidrovia como meio de transporte de peças e equipamentos. É sobre isto que o presente texto vai abordar.


Segundo algumas pessoas o movimento pela hidrovia irá crescer muito. Principalmente pela ação oficial do Estado, que busca a descentralização da atividade de construção naval. Estendendo-a para outras regiões do estado como o rio Jacuí. Sobre este fato dois são os pontos que devem ser tratados:

1°. A questão da centralização e descentralização da construção naval;

2° A questão do volume de carga a ser transportado pela hidrovia.

Com relação ao primeiro ponto, temos de deixar claro que a indústria de construção naval é por si só descentralizada. O estaleiro nada mais é do que o local onde se monta um navio. A visão de um estaleiro, onde se faz todos os processos é muito bonita e apropriada para a Coréia do Sul ou o Japão. Onde alguns estaleiros dominam todo o processo de produção de um navio, e ainda são gigantes industriais do ramo da indústria de eletrônica. Produzindo assim muitos dos equipamentos e componentes embarcados num navio. Aqui no Brasil, nosso estágio é outro. Estamos retomando a atividade industrial no setor naval e ainda carecemos de muitos recursos para chegarmos a este estágio.

Por sua vez, no mundo todo é comum a construção de módulos em diversos locais diferentes e sua união em um estaleiro. Este conceito foi empregado tanto pelos alemães, quanto pelos norte-americanos na Segunda Guerra Mundial. Para os alemães visava descentralizar sua indústria, e assim preservá-la dos ataques aliados. Para os Estados Unidos visava agilizar seu processo industrial, dando-lhe uma velocidade nunca antes vista. Hoje em dia, na Correia do Sul o mesmo é empregado de forma a produzir um navio de grandes dimensões em menos de seis (06) meses. Partindo-se do projeto, até entregá-lo completamente testado para o proprietário.

Finalmente temos de admitir que a área de maior concentração industrial do nosso Estado não é a região de Rio Grande. Muito pelo contrário, por anos esta foi uma região empobrecida. Nossa região industrial esta localizada no eixo entre a capital do Estado e a cidade de Caxias do Sul. Este é o polo industrial que irá abastecer o polo naval com muitos dos equipamentos e serviços especializados que este necessita.

No segundo item, referente ao volume de carga que passará a ser transportado pela hidrovia. É natural que haja um volume maior. Pois partimos de um estagio sem movimentação, pois não existia a indústria naval, para uma nova realidade de indústria naval implantada. No entanto o tipo de carga que a mesma vai transportar caracteriza-se por ser de peças grandes com pesos elevados. A título de conhecimento, no ano passado em uma reunião com representantes da TMSA (antiga Tecno Moageira S.A., e última das grandes indústrias metalúrgicas ainda instalada em Porto Alegre) e de uma multinacional europeia. Foi apresentada a proposta de montagem de módulos cujo cliente final seria a Petrobras, e para tanto se utilizaria de área do porto de Porto Alegre. O espaço inicialmente visualizado era a área portuária de gramado entre a CESA e a Avenida Castelo Branco. Ideia que passou a abranger também o espaço do antigo Terminal de contêineres e do armazém C-6. Neste espaço seriam montados módulos de 20X30 metros de base e 30 metros de altura. Com peso bruto variando entre 350 e 1.500 toneladas. A serem transportados por balsa até Rio Grande. Se formos ver as dimensões e o peso da carga os dados são impressionantes. Mas há quem afirme que isto por si só não enche a hidrovia. E seta afirmação que é feita pelo setor da navegação, é baseada no fato do transporte de carga a granel, seja ela composta de fertilizantes ou cereais, ser muito mais volumosa. Veja nos textos aqui divulgados, que é comum uma única barcaça transportar 5.000 toneladas. E a tonelagem final de nossa safra é muitíssimo mais elevada do que a carga que será produzida para atender a indústria naval. Esta expectativa é um mito que esta sendo criado, e que não será verdadeiro.

Também temos de considerar que muito do material a ser enviado para os estaleiros virá de fora do Estado. E isto inclui módulos prontos, chapas de aço especial para a construção naval, e equipamentos. Já que o centro da indústria nacional esta localizado no estado de São Paulo. E é lá que muitas das multinacionais que atuam no Brasil fincaram suas raízes. Por último não podemos deixar de considerar que deste volume uma boa porcentagem deve vir do exterior. E isto não é um absurdo, pois agora mesmo a Petrobras esta recebendo peças produzidas na Itália. Para empregar na ampliação da Refinaria Alberto Pasqualini – REFAP.

Espero que esta análise tenha servido para esclarecer melhor o assunto. Ter dúvidas é algo normal. E contrapor ideias é um meio eficiente de possibilitar a aprendizagem de quem quer aprender. Nos textos que li apresentando a visão do governo do Estado me pareceu que a existência do polo naval irá mudar a realidade de nossa hidrovia. O que não é realidade. Também esta havendo uma supervalorização do seu papel e importância, em detrimento do setor que mais contribui para sua real grandeza, que é a agricultura. Pensem nisso!

Fotos: Carlos Oliveira

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