domingo, 7 de abril de 2013

Para refletir sobre a partida do navio mercante “Callio”.


 A partida do navio mercante “Callio” na manhã de sexta-feira (05) é mais uma oportunidade de reflexão. O navio que havia chegado na manhã de domingo (31/MAR) ficou cinco dias operando em nosso porto. Isto para que pudesse descarregar apenas 8.000 toneladas (cito o dado fornecido pela administração do porto em seu site oficial) de sal marinho. O longo tempo que esta operação levou chama a atenção, e é preciso compreendê-la. Pois disso podemos tirar alguns ensinamentos, assim como compreender melhor a nossa situação.

Inicialmente relembro que no texto inicial, onde divulguei a chegada do navio comentei o precário estado de conservação do navio. Esta informação foi confirmada com outra que recebi posteriormente de que nem todos os guindastes do navio apresentavam condições de operar na descarga. Sendo que apenas um deles foi utilizado nesta função. E que para auxiliar na tarefa foi necessário o emprego do guindaste No. 18 do porto de Porto Alegre. Guindaste este que tem gerado comentários que mesmo após reformado no ano de 2012, não esta trabalhando a contento. Exigindo seguidas paradas após um período de trabalho de 2 a 3 horas. O que houve com a reforma ou o porquê desta necessidade de parada são assuntos que deveriam ser vistos com mais seriedade pela autoridade competente. Já que na sua reforma foi empregado um valor significativo do dinheiro público (Um milhão de reais) na realização do trabalho. E o mesmo deveria estar trabalhando bem melhor se comparado ao estado em que se encontrava anteriormente.

Outro fato diz respeito ao custo de operação no porto. Que nos casos de domingos e feriado é efetivamente muito mais caro. Tanto é que o dono da mercadoria chega a adiar a operação de descarga nestes dias e assume o custo de manter o navio parado junto ao cais. Este custo necessariamente será repassado ao produto, chegando consequentemente ao consumidor final. E com ele é pago em dólares, o país também perde divisas importantes e que nos custam muito caro conseguir.

Finalmente chego a um ponto que dificilmente é percebido e que representa o motivo pelo qual o navio atrasou em um dia sua partida. Inicialmente o “Callio” iria partir na manhã de quinta-feira (04). Porém neste dia estava previsto a chegada de uma frente fria, com fortes chuvas acompanhadas de fortes rajadas de vento. Lembrem que um forte temporal já havia atingido a Argentina. Por tanto partir na quinta-feira representaria enfrentar estas condições climáticas adversas no meio da viagem até o porto de Rio Grande. Viagem com canais artificiais estreitos com relação ao tamanho do navio. E como o mesmo estava vazio, pois nosso porto nada consegue embarcar neste tipo de navio. Seu calado era muito menor. Fazendo com que ele ficasse mais elevado sobre o nível da água, e sofresse um efeito maior da ação do vento. O chamado “efeito vela”. Capaz de retirá-lo de seu rumo, provocando o seu encalhe, se estiver navegando em área de canais artificiais. Esta realidade não é uma fantasia. Ela já ocorreu e esta registrada inclusiva pela imprensa. É evidente que este motivo não é revelado de forma clara e direta. No entanto ele é considerado pelas pessoas que tomam as decisões no navio (comandante, armador, agente, e proprietário da carga). O prejuízo no encalhe de um navio e muito grande. Sua solução é cara. E o ressarcimento dos custos é demorado. É por isto que diante da realidade algumas decisões são tomadas sem que nós tenhamos completa consciência de sua complexidade. Expor esta realidade é o primeiro passo para que possamos enfrentá-la. Pois somente assim é que conseguiremos melhora nossa situação. Tendo no futuro um porto mais eficiente. Operando com plena capacidade, a custos baixos e risco zerado.

Pensem nisso, pois isto é importante para o nosso futuro.

Fotos: Carlos Oliveira

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