sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Professor, muito prazer!

Neiff Satte Alam*

Seria uma surpresa para qualquer pessoa se, ao buscar um atendimento médico no Pronto Socorro, fosse atendido por um Agrônomo; ficaria muito estranho um veterinário executar um projeto arquitetônico; teríamos enorme dificuldade em aceitar um procedimento odontológico feito por um Engenheiro Civil, mas não observamos nenhuma estranheza ou contestação quando qualquer um dos profissionais acima fizesse o trabalho de Educador, sem ter feito um curso que os qualificasse para o desempenho eficiente como docente.
Parece que ser um bom orador, ter algum carisma e conhecer bem determinado assunto é o suficiente para ser considerado bom professor. Lamentamos informar que não é suficiente. Cada profissão possui características e peculiaridades que permitirão um desempenho satisfatório e a obtenção de resultados que só poderão ocorrer e serem avaliados adequadamente pelos respectivos profissionais.
Um dos componentes do fracasso escolar que se estabeleceu no país é exatamente este: baixa profissionalização dos professores, desde sua formação nas Universidades e Faculdades isoladas, nos cursos de formação de Professores.
Milhares de professores são lançados no mercado de trabalho sem condições para enfrentar as adversidades e novidades de um sistema educacional superado, principalmente pelo descaso dos governos ou por políticas equivocadas que investem com pesados recursos econômicos em estrutura física e ampliações, mas pouco investem no melhoramento dos recursos humanos que terão que por em movimento os mecanismos de formação e qualificação do ser humano.
Construção de competências; desenvolver uma prática reflexiva; contextualizar os temas centrais de determinada disciplina e estabelecer conexões para uma visão interdisciplinar em um primeiro momento e se chegar a uma inter ou transdisciplinaridade na sequência de uma ação de ensino-aprendizagem; avaliar a aprendizagem desde o primeiro momento considerando, inclusive, as diferenças entre os educandos; estabelecer mecanismos de recuperação de modo a evitar que diferentes capacidades no ato de aprender façam-nos perder alunos com capacidades diferenciadas, é o mínimo que se poderia esperar de um educador. Isto se aprende em cursos de formação de Professores, pois isto é o que se espera de um Professor.
O Professor não está conectado apenas com os seus alunos, mas também com outros profissionais especialistas na área de educação que, na mesma linha de raciocínio de que temos que ter o profissional certo no lugar certo, não pode ser substituído por pessoas sem qualificação, pois, caso isto ocorra, todo o sistema educacional e o processo desenvolvido neste sistema estarão irremediavelmente comprometidos. Dentro da atual realidade social, considerando um aumento dos conflitos familiares por várias causas, que não é o momento de analisar, é indispensável a presença destes especialistas em educação, como é o caso de Orientadores Educacionais, Supervisores Escolares, Psicopedagogos e Pedagogos.
Também aí há uma falha no sistema, pois, na maioria dos casos, há utilização de professores em desvio de função que, por mais boa vontade que tenham, não conseguirão, com algumas exceções, sucesso nesta empreitada.

Neiff Sate Alam*
Professor aposentado da Universidade Federal de Pelotas
Militante do Partido Socialista Brasileiro de Pelotas

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