terça-feira, 20 de outubro de 2009

Muito Estranho

“O Deus Marte se enamora da jovem princesa Réia Sílvia que engravida e tem gêmeos, Rômulo e Remo. O rei Amúlio ordena que os gêmeos sejam mortos, mas o servo encarregado da tarefa não tem coragem para fazê-lo e os abandona na corrente do rio Tibre. A cesta com os gêmeos para nas margens do rio, são encontrados e cuidados por uma loba (provavelmente uma prostituta, chamada na época de lupa).”
A churrascada da noite passada foi farta, regada com muita cerveja. O time todo comemorou por ganharmos, depois de tantas derrotas, a primeira partida de futebol no campeonato. Tarde da noite, deitei e dormi instantaneamente.
Segunda-feira, o despertador tocou.
Acordei estranho... Senti que a temperatura do meu corpo aumentara e queria continuar na cama. Não sabia bem porquê, desejava matar o trabalho. Estava nauseabundo. Lembrei-me do jogo de futebol no domingo, a minha vontade era de dar uma voadora nos peitos do filho da mãe que me chutou por trás. Minha nádega direita doía, e como! Passei a mão, examinei e senti que o hematoma não diminuíra.
Durante três meses, sempre no café da manhã, a mesma coisa. A “Que Manda Em Mim” dizia:
- Benhê vá ao médico!
Irritava-me, nem sabia o porquê, desejava, não sabia bem o quê, a pancada doía, e como! Passava a mão, o hematoma na mesma. Como bom brasileiro que sou, somente quando o hematoma aumentou é que procurei o Dermato. Que sem me olhar...
- Nome e idade?
- Remo, quase trinta.
- Hum... Hum... Uma aspirina, um Emplastro Poroso Sábia e o senhor ficará bem.Mais três meses á base de emplastro e ASS. A contusão perdeu o roxo, porém dobrou de tamanho, ficou mais lisa e a pele esticada. Devido aos exercícios notei que o os músculos peitorais estavam mais desenvolvidos. Engordei um pouco, mas sempre com um lado da bunda maior do que o outro. E para curar as sucessivas depressões, nada com uma boa barra de chocolate, regada com molho de mostarda.
A “Que Mora Comigo” determinava:
- Morê, vá ao médico!
-Blag!
Hema e eu, que ficamos íntimos e cresceu mais ainda, fomos consultar o Traumato. Que sem nos olhar...
-Nome e idade?
- Remo, quase trinta.
- Hum... Hum... Um diurético, uma aspirina, um Emplastro Poroso Sábia e o senhor ficará bem.
-PQP! Mais dinheiro gasto para nada, concordas comigo, Hema?
- (espasmo).
Chorava por qualquer coisa. Sentia-me rejeitado, não me achava atraente. Os lábios e os pés estavam inchados. E exceto para fazer xixi, tinha dificuldade de fazer as necessidades, tanto para sentar no vaso, quanto pelas hemorróidas. Quando saia para a rua, usava como disfarce, um sacolão que colocava atrás, escondendo o bundão. Dona Gringa, a vendedora de roupas femininas foi quem me emprestara.
Passaram-se sete meses e o Hema estava impossível. Pela primeira vez, sentia dores agudas no local, e em espaço de tempos cada vez mais curtos.
E a “Que Me Atura”:
- Fofo é grave, vamos ao hospital?
“Fofo?”, ninguém merece! Fomos nos três para o hospital, Hema, Ela e eu.
Após os exames de sangue e de uma ecografia, (nunca vira tanta gente de branco na minha frente) um médico, Ginéco-Obstétra, simplesmente disse-me:
- O senhor está grávido e de sete meses!
- Capaz! Só se for gravidez psicológica é claro! Ri amarelinho.
- Não, continuou - impávido como Mohamed Ali - o senhor já está em trabalho de parto.
Me caíram os butiás dos bolsos!- Mas como isso é possível? Sem ovários e sem útero?Contou-me ele, que estes acontecimentos são raros na medicina. São chamados de gravidez ectópica é aquela na qual o feto desenvolve-se fora do útero. O seu caso é bem mais raro e por razões ainda desconhecidas, um dos óvulos fecundados é absorvido pelo feto, ficando em estado latente, dentro do corpo do irmão gêmeo. Até que um dia, por algum acidente, este começa desenvolver-se e a natureza encarrega-se de criar condições para que o irmão maior possa gerar o menor.
A mesa de cirurgia estava preparada. Com duas “comadres” como calços improvisados, nos pés da mesa, para que o lado direito ficasse mais alto do que o esquerdo e a minha “barriga”, no centro de gravidade. Na hora do parto, como é praxe, queria xingar alguém, mas nem o nome da “Que Estava Comigo” eu lembrava. De costas, pesando quase cento e trinta quilos com mais de cinqüenta pessoas na sala de cirurgia, risinhos contidos, dei a luz.
Rômulo sempre foi um menino robusto, lembro-me quando ele tinha quase dez anos e eu quase quarenta, quando fazíamos um “peidonato”, uma espécie de campeonato, não rara as vezes que um ou outro se “peigava”. Hoje, o meu irmão gêmeo, esta com quase trinta anos e muito bem casado com a Pri, minha nora/cunhada que é uma pessoa maravilhosa. Sempre que podemos estamos juntos. Vamos malhar na academia, vamos às festas e em muitos churrascos. Nos damos tão bem que com apenas um olhar, já sabemos quando tem alguma “Deusa na área”. Eu continuo jogando o meu futebolzinho, e por falar nisso... Tche! Hoje acordei com aquela dor tão conhecida, só que agora era na nádega esquerda, a minha vontade era de dar uma voadora no filho da mãe que me chutou. Passa um filme pela minha cabeça. Não, de novo não... Gritava. Acordo, completamente apavorado, encharcado de suor, com o telefone tocando...Pego o telefone - Seria sonho?
Olho no visor - Terror noturno?
Ou...Leio o nome da pessoa –Realidade...

05/10/2009
Vlademir Rohde

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