segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Sobre estaleiros e a manutenção das embarcações.



Há muitos anos nossos estaleiros vivem com dificuldades de sobrevivência. Prestar um serviço de qualidade custa não só mais caro, como exige manter uma mão de obra qualificada contratada durante todo o ano. Caso contrário o trabalhador migra para outro setor e se perde, não só o vínculo, como o próprio conhecimento adquirido ao longo de anos. Por outro lado, as empresas de navegação que sobreviveram a crise do setor de transporte naval, geram uma demanda muito pequena de serviços. Muitas vezes resolvidos no âmbito interno da própria empresa. Que também possui mecânicos, soldadores e técnicos em sua folha de pagamento.

É neste círculo vicioso, que nos encontramos na atualidade. De um lado poucos estaleiros, em sua maioria de pequeno para médio porte, com custos mais elevados. Tendo como causa a baixa demanda pelo setor. Por outro lado empresas de navegação que buscam enxugar custos ao máximo, para aumentar sua já reduzida rentabilidade. Evitado com isto terem de fechar suas portas.

Sobre este assunto, um fato chamou a atenção, e é por isto que escrevo este artigo. Foi observando uma fotografia tirada na manhã chuvosa de sábado (01/12), no qual as barcaças graneleiras “Trevo Roxo” e “Trevo Norte” chegam a Porto Alegre navegando amarrada uma a outra. Além de não ser um modo padrão de navegação, havia o indício de que algum problema atingira uma delas. O caso começou a se esclarecer na quinta-feira (13), quando uma nova fotografia revelou detalhes sobre o problema que acometeu a barcaça “Trevo Roxo”. Na imagem era possível de ver a barcaça atracada junto ao cais Navegantes, do porto de Porto Alegre, com a embicada para baixo e a popa levantada. Olhando com mais atenção identificou-se que a barcaça encontrava-se sem um de seus hélices.

A questão que se coloca é:

1°. O porto público não é local de reparo de embarcações. Para isto existem os estaleiros. O máximo que o mesmo deve admitir são pequenas ações de conservação ou que ocorram paralelamente a sua operação de carga ou descarga. Tornar o porto um local oficial e permanente para ações de reparo é um desvio de sua função.

2°. Estaleiros e empresas de navegação devem ser tidos como parceiros. E o fortalecimento econômico de um repercute no fortalecimento do outro também. Um estaleiro com serviço constante é capaz de prestar serviço de melhor qualidade a um custo menor. Barateando os custos de manutenção das empresas de navegação.

3°. Quando uma empresa de navegação executa o serviço que deveria ser realizado por um estaleiro, além de retirar dele um serviço, compromete sua própria manutenção futura. Pois se o estaleiro o estaleiro tiver de fechar suas portas ela não terá uma empresa com capacidade técnica e condições adequadas de realizar obras de maior envergadura no futuro. Restando-lhe como única opção recorrer a pequenas empresas despreparadas. Fato que pode sair muito mais caro no futuro.

Como vemos, no mundo não existe empresa autossuficiente. Todas dependem umas das outras, e manter este equilíbrio é saudável para o bom funcionamento da navegação. Temos de evitar ao máximo os erros de avaliação. E pensarmos no conjunto como um todo. Pois só assim é que teremos uma navegação forte, com uma indústria naval florescente e um sistema portuário ativo e vibrante. Pensem nisso!

Fotos: Carlos Oliveira

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