quarta-feira, 19 de novembro de 2008

OCEANÁRIO EM ÁGUAS DOCES


Todos sabem que 70% do Planeta Terra é composto de Água, mas apesar dessa grande quantidade, apenas 2,7% é doce, sendo apenas 1% disponível superficialmente através dos rios, lagos e banhados. Também sabemos que os Oceanos e Mares recebem todos os resíduos e efluentes lançados nos rios, entretanto temos que reconhecer que no meio desse caminho há os banhados, que auxiliam na purificação da água, através de sua vegetação peculiar, que se nutre de matéria orgânica.
Pois bem, dito isso lhes pergunto: se fosse para investir em recursos hídricos aqui na região, você focaria investimentos em um banhado ou no oceano? Essa pergunta pode parecer incabível para muitos, mas é o que vem ocorrendo em nossa Bacia Hidrográfica. Os banhados, já por anos aterrados para a construção de moradias, hoje ainda são aterrados em nome do Turismo. Um turismo, que dizem as autoridades, ser de cunho ambiental... Pode? Ou seja, vamos aterrar um banhado, para construir um trapiche, torre panorâmica, trilhas e tudo mais, para posteriormente posar de ambientalista preocupado com o desequilíbrio ambiental!? Ora, isso é, ao meu ver, um contra-senso terrível que não deve ser seguido nem apoiado por ninguém.
Os banhados são ecossistemas de grande produtividade primária e com enorme capacidade de fixar energia solar. Além disso, realizam um controle hídrico excepcional, evitando secas e inundações; abastecem os aqüíferos subterrâneos; estabilizam as condições climáticas de toda uma região e têm os maiores índices de biodiversidade do planeta. Biodiversidade que se encontra nessas áreas de contato entre os ecossistemas terrestre e aquático.
Essas áreas úmidas podem ser de água salgada (mangues) ou de água doce (banhados). Ambas importantes e exclusivas para proteção de suas respectivas formas de vida. Mas aí pergunto: porque devemos fazer um Oceanário de 92 milhões de Reais sobre uma área de banhado se temos espécies nativas daqui (de nossos rios) sofrendo declínio populacional? Porque devemos abrir precedentes para que outro loteamento se instale próximo a esse e, em contra-partida nos dê uma ONG de pesquisa e ação ambiental? Porque devemos criar outra estrada, para “desafogar o trânsito”, se mantemos o crescimento da indústria mobilística e ainda queremos (?) trazer mais turistas para cá? Porque não incentivamos centros de estudos marinhos que já existem e que são pouco valorizados?
Se investíssemos esses recursos na ampliação do Trensurb e outros meios de transporte coletivo... Se investíssemos em segurança, e pudéssemos ir de bicicleta para o trabalho... Se fizéssemos um controle populacional, e não consumíssemos mais recursos do que temos disponíveis... Se optássemos em recuperar as áreas degradadas ao invés de piorá-las (aqui faço um comparativo entre os plantios de arroz – que permitem as trocas hídricas com o rio e manutenção de uma certa biodiversidade – e loteamentos de luxo)... Bem, se isso ocorresse, talvez não fosse necessário falar de Educação, sobretudo Ambiental!
Texto de
Leonardo Francisco Stahnke –
leobio@pop.com.br
Biólogo

(PUBLICADO VS, 05.11.2008).

Nenhum comentário:

Postar um comentário