segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Porto Cais Mauá – Insensibilidade ou ignorância ?

Há certas coisas que são realmente inexplicáveis. Outras causam indignação. E é por este motivo quando elas acontecem tem de serem mostradas. Pois somente por meio do choque que elas nos causas. Teremos chance de vê-la mudar.


No sábado (23/AGO) foi marcado pelas redes sociais um encontro do grupo de simpatizantes do “# OCUPA CAIS MAUÁ”, na área do Porto de Porto Alegre. Como todo movimento democrático seu efeito pode ser interpretado de formas diferentes pelas diversas pessoas que tomam conhecimento do mesmo.

Pois da parte dos administradores da empresa Porto Cais Mauá, que ganharam o direito de investir  e explorar economicamente este espaço público por 25 anos. A interpretação do que haveria no local foi extremamente pessimista. Assim sendo, orientaram ao seu serviço particular de guarda e vigilância patrimonial o completo bloqueio do portão de acesso ao publico que lá chegada. Não que isto não seja uma realidade do dia-a-dia desta empresa. Mas a forma como isto se dá é extremamente reveladora.

Os pretextos para evitar ou impedir o acesso ao local são diversos. Para uns é dito que o espaço do Cais Mauá, do Porto de Porto Alegre é PRIVADO. Que o Governo do Estado o entregou a empresa Porto Cais Mauá e lá só entre com autorização dela.

Uma segunda resposta, que aparentemente tenta expressar uma preocupação com as pessoas. Diz que o acesso pelo portão central esta proibido em virtude das obras que estão ocorrendo no local. Com isto se busca preservar a segurança dos transeuntes,

Ocorre que obra ali não tem! Quando muito se vê um ou outro operário circulando pelo local. E mesmo que houvesse obra, há espaço de sobra para as pessoas e os veículos circularem com segurança.

Como alternativa de acesso é sempre indicado o túnel por debaixo da avenida Mauá e da linha do trem. Acesso este que apresenta duas escadarias no seu percurso. Fato nem sempre fácil de superar por quem possui  dificuldade de subir ou descer escada. E que em determinados horários é inseguro e perigoso.

NEGATIVA DE ACESSO

Retornando ao sábado (23/AGO), naquele dia nem um veículo particular pode acessar o espaço. Com resposta foi dito que haveria um movimento no local e que não se poderia garantir a segurança das pessoas. Desta forma os trabalhadores do porto enfrentaram dificuldades de acessar o seu próprio local de trabalho. Mas o que mais chocou foi a tranquilidade com que se nega o acesso as pessoas. Nas fotografias aqui vinculadas se vê o quanto esta política, adotada pela Porto Cais Mauá é insensível.

Nelas se vê uma família que tentou entrar na área para ir até o local de embarcar na lancha do centenário clube Grêmio Náutico União. O pai segurava em um braço o berço de sua filha menor de um ano. Na outra mão carregava parte dos pertences da família. A mãe guiava sua pequena filha com três anos e meio de idade. Um amigo da família levava o carvão, os espetos e a carne para o churrasco. A guarda privada da empresa COGIL, que no local possuía três funcionários, simplesmente indicou que eles deveriam caminhar 500 metros para pegar o caminho do túnel. O pai da família pensou que de TAXI poderia entrar. Pegou um e foi barrado no portão, ainda pela mesma desculpa da manifestação que iria ocorrer.

Junto naquele momento havia um senhor de idade e sua filha. Sua veste simples revela a origem do mesmo. Que também não teve escolha se não a de buscar a outra via de acesso ao Porto.

INSENSÍVEIS OU IGNORANTES?

Diante do fato, é de se questionar o porque isto ocorre? Será que a empresa Porto Cais Mauá é insensível às pessoas? Ou será que eles são ignorantes mesmos?

Se o objetivo desta empresa é explorar o turismo no local. É contraditório o tratamento que ela dispensa para com a população que ali chega. Em se tratando de um sócio do Grêmio Náutico União, um clube tradicional de Porto Alegre. Reconhecido nacionalmente e internacionalmente pelos seus feitos. E com dezenas de milhares de sócios. Potenciais consumidores deste empreendimento turístico e de lazer. A atitude adotada pela empresa Porto Cais Mauá é extremamente contraditória aos objetivos da própria empresa.

UMA HIPÓTESE ABSURDA.

A hipótese é absurda, Mas vale aqui expressá-la, pois mesmo sendo absurda ela pode refletir a realidade. Sabe lá o que se passa na cabeça destes empresários.

Neste caso eles certamente instruíram os seus vigilantes a tomarem todo o cuidado com o movimento social “# OCUPA CAIS MAUÁ”. Estes vigilantes, que são funcionários da empresa COGIL, altamente treinados no trato com o público qualificado que irá frequentar as lojas, os restaurantes e o hotel que os espanhóis vão construir. E que por portarem armas de fogo e colete a prova de bala, foram no mínimo avaliados pela Polícia Federal. Identificaram naquele grupo suspeito, possíveis “elementos subversivos da ordem pública”.

E é claro que com lógica pura aplicada, por estas mentes brilhantes. Isto se torna mais fácil de ser compreendido. Vejam como é esta lógica.

Os espetos que o grupo levavam eram armas a serem utilizadas pelo movimento. O carvão é um combustível natural, e não necessita de maior comentário. As duas crianças seriam o escudo humano utilizado pelo grupo suspeito, que visava entrar no local.

E o senhor e sua filha? Qual era o papel deles? O Senhor, evidentemente é uma das três coisas: SEM TERRA, SEM TETO OU SEM CAIS.

É claro, que a lógica deste raciocínio é muito estranha para todos nós. Mas não o é para a mente brilhante dos empresários do primeiro mundo. Europeus que após centenas de anos de domínio colonial aprenderam a distinguir, de longe, os nativos latino-americanos.

A mesma lógica é facilmente compreendida pelos brilhantes seguranças privados da empresa COGIL. Que utilizando de métodos invejáveis de “guerra psicológica” buscaram intimidar o Carlos que estava fazendo as fotografias. Ao apontarem para ele um possante aparelho celular. No intuito não só de identificá-lo no outro lado da Avenida Mauá; como o de ter um registro de qualidade daquele que por eles já foi classificado com uma ameaça. Perigosíssima.

FALANDO SÉRIO!

Na verdade tudo de errado que esta ocorrendo reflete que o processo esta errado. Seu início, na no momento de se fazer o edital de licitação, foi equivocado. A pressa em querer mostrar serviço. Em querer entrar para a história com tendo sido quem fez a revitalização, não auxiliou em nada. O governo atual, ao sentir medo de ser acusado de perder mais um negócio milionário não contribuiu para a solução do problema. Também não se empenhou pelo projeto. Á que ele foi iniciado pelo governo anterior, do PSDB. Os empresários pensavam que a coisa seria muito mais fácil. Que iriam conseguir um empréstimo governamental sem apresentar as devidas garantias. E ao não receberem se sentiram talvez traídos. Eles não têm confiança no nosso povo. E de certa forma estão. No mínimo deslocados, para não dizer acuados.

Mas embora tudo isto contribua para se compreender um pouco da situação. Mesmo assim é difícil de explicar a postura por eles adotada em alguns momentos. Que oscilam entre a INSENSIBILIDADE e a IGNORÂNCIA.

Pensem nisso!

Vanderlan Vasconselos

Fotos: Carlos Oliveira

Nenhum comentário:

Postar um comentário