domingo, 23 de setembro de 2012

“Westfield” traz ao estado bobinas de papel E o que isto tem a ver conosco?



O navio mercante “Westfield”, que mede 187 metros de comprimento e possui 29 metros de largura, atracou no Porto Novo de Rio Grande com um carregamento de 5.382 toneladas de bobinas de papel. Este fato ocorreu na segunda-feira, 17 de setembro. Na sexta-feira (21) o mesmo partiu às 08h16min. Diante desta realidade cabe aqui uma pergunta simples e objetiva: O que isto tem a ver conosco?

A resposta é muito simples. Toda este enorme volume de bobinas de papel vão ser transportados pelas nossas estradas, de Rio Grande à Porto Alegre. E nenhuma parte desta carga será transportada pela hidrovia. Se nós pensarmos que cada carreta não consegue transportar sua capacidade total, de 30 toneladas por veículo. Já podemos ver que para transportá-la será necessário muito mais do que 179 carretas. Este fato se deve ao tamanho das bobinas, que embora sejam produzidas em dois tamanhos distintos, não conseguem ser acondicionada nas carretas até seu limite máximo de carga.

Imagine que cada carreta possua 30 metros de comprimento. Multiplicando 179 carretas por 30 metros vamos ter uma fila equivalente a 5.370 metros (5,37 Km). Se o espaço regulamentar entre cada veículo de carga é de 30 metros, fato que dificilmente ocorre, e por isto aumento o risco de acidente, neste caso a fila dobraria de tamanho, atingindo 10.740 metros (10,74 Km). Agora pensem que para ultrapassar um caminhão na estrada às vezes já é difícil. Que quando eles estão em número de dois ou três a manobra é muito pior, e o risco de acidente é muito maior. Agora imagine mais de 179 carretas em nossas estradas, e veja o quanto é grande o estrado que se faz ao não trazer um único navio de carga ao porto de Porto Alegre. É neste contexto que nós devemos nos preocupar. Pois os interesses que estão por traz desta simples mudança são muitos. E os prejuízos são maiores ainda. Principalmente para o povo do Rio Grande do Sul.

Na realidade, puxando um pouco pela memória, este tipo de navio e carga, vinha seguido ao porto de Porto Alegre. E sua operação aqui em nosso porto, era tida como a melhor do Brasil. Isto levando-se em consideração o tempo para realizar a descarga e a margem de dano causado ao material. Neste quesito, a nossa mão de obra dos trabalhadores portuários avulsos era muito elogiada. Tendo o mínimo de avaria ao produto em âmbito nacional. Mas, infelizmente e inexplicavelmente, esta operação deixou de ocorrer em nosso porto. Mesmo a contragosto do cliente, na qualidade de importador da mercadoria. Para quem desconhece, este cliente é o segundo maior consumidor de papel jornal do Brasil, e seu nome é Zero Hora.

Como podemos ver, no mesmo tempo em que o porto de Porto Alegre perdeu uma operação rápida, limpa e sem risco de poluição, tida como a melhor em qualidade no Brasil; o povo do Rio Grande do Sul ganhou mais caminhões nas suas estradas, mais poluição do meio ambiente, e o cliente ampliou sua margem de perda por avaria da carga. Pois cada vez que a bobina é manuseada corre-se o risco do papel ser danificado. E um simples rasgo, equivale a vários metros comprometidos, e que tem de ser descartados. Pois não podem ser colocados nas rotativas sem que se rompam quando tencionados.

É muito interessante levantarmos este assunto para o debate. Pois no mundo de hoje, em que tanto se fala na busca do politicamente correto, na economia de recursos. O que esta ocorrendo é exatamente o contrário. E o interessante, é a passividade como isto aconteceu, sem que a administração do porto da capital reagisse. Para o cliente, disseram que o custo do transporte rodoviário seria assimilado pelo operador do navio. Uma bondade excessiva para uma empresa multinacional. Por acaso, alguém acredita que isto seja uma prática comercial comum? Na verdade, este custo certamente deve ser repassado ao cliente e consequentemente aos consumidores do jornal. E neste momento novamente o povo é que paga a conta. Pois num país que pouco se lê, o encarecimento do custo de um simples jornal é mais um empecilho no estímulo à leitura, e na formação de uma opinião pública mais consciente.

Como podemos ver, são muitos os motivos e interesses que fazem com que nossa vida seja o que é. E quando nos damos conta de fragmentos desta realidade, podemos ver que nossa visa poderia ser diferente. Quem sabe bem melhor do que é hoje. E é por isto que devemos sempre lutar pelo que achamos correto. Não pelo que seja melhor para nós única e exclusivamente. Mas o melhor para o povo do Rio Grande. Lutar por um mundo melhor é lutar pelo bem comum. Pensem nisso!

 Fotos: Carlos Oliveira

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