Imagine uma estrada que não possua pintura delimitando a divisão entre as pistas ou seu término junto a área do acostamento. Imagine que esta rodovia também não possui placas com capacidade de refletir sua informação quando iluminadas pelos faróis dos veículos. Uma rodovia nestas condições, mesmo não possuindo buracos, seria por demais perigosa para se trafegar durante o dia. Quem dirá a noite.
Pois o mesmo ocorre com a hidrovia. Esta necessita de uma série de equipamentos que servem para bem orientar os comandantes dos navios que nela transitam. Saber qual é o caminho seguro é fundamental para os navegantes. Pois diferente de uma estrada, na água o caminho esta escondido sob sua superfície. E é impossível de se vê-lo se o mesmo não estiver devidamente sinalizado. E isto se consegue quando se têm faróis, faroletes, boias luminosas, boias cegas adequadas e funcionando. Todos estes itens têm de estar devidamente registrados numa carta náutica, que é o mapa impresso assim como os mapas rodoviários.
Como se não bastasse isto, também temos as condições climáticas adversas, como uma chuva forte ou um nevoeiro espesso. Que reduzem a visibilidade, mesma à obtida com o auxílio dos mais modernos equipamentos.
Um fato que nos atinge muito nesta época do ano são os nevoeiros. Surgidos com extrema rapidez, eles são uma tormenta para os navios assim como para os veículos e as aeronaves. Na semana passada a ocorrência de um nevoeiro na terça-feira (04) retardou a entrada do navio mercante “Nikos N” por toda a amanhã. A embarcação ficou retida, por motivos de segurança, na área de fundeio “alfa”, da lagoa dos Patos, próximo ao farol de Itapuã. Somente após a dissipação do mesmo é que o navio iniciou sua navegação rumo ao porto de Porto Alegre. Finalizando sua atracação às 15h30min quando o normal seria por volta da 11 horas da manhã. Já no dia de hoje (09) o “Nikos N” após partir do porto também não pode seguir viagem. Teve de fundear na área “bravo”, em frente ao Cais Mauá. Desta vez o motivo é a restrição à navegação no período noturno para navios de médio e grande porte. E isto se deve não só a limitações da nossa sinalização, mas às dimensões de nossa hidrovia. Que segundo as normas internacionais é por demais estreita para navios de médio e grande porte.
Em vista desta realidade, podemos concluir que embora a hidrovia seja a rota mais segura de se utilizar no transporte de cargas, ela exige investimentos. No entanto, diferentemente das rodovias, o investimento na hidrovia é capaz de dar um retorno muito maior no volume de carga transportado. Sem falar que sua manutenção e conservação é bem menos cara. Logo investir na hidrovia significa dar-lhe maior segurança. E consequentemente garantir ao erário público uma economia de recursos. Pois com uma fração do 1 bilhão gasto anualmente na conservação e ampliação de nossa malha rodoviária pública, e neste valor não estão incluídos os recursos privados das rodovias pedagiadas, seria possível de se fazer uma hidrovia nova e moderna. Capaz de garantir a navegação durante o dia e durante a noite. Dando uma dinâmica nova para o setor e incentivando-o a captar mais carga. Reduzindo significativamente o volume de veículos pesados e de cargas transportadas pelas rodovias. Cujo reflexo se dará na redução do seu desgaste, logo no valor gasto para sua manutenção.
Sendo assim fica esta ideia para reflexão de todos. E quem sabe um dia, nossa hidrovia passe a ser vista com outros olhos e ganhe uma política pública séria que a transforme em algo ainda melhor.
Foto 1 - Nevoeiro se formando rapidamente na região do centro de Porto Alegre.
Foto 2 - A baixa visibilidade da área atingida pelo denso nevoeiro contrasta com o céu limpo localizado pouco acima do navio com produtos químicos.
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